Documento de Referência em pauta

Foto Peter Ilicciev

Todos os lugares da Tenda da Ciência foram ocupados pelos trabalhadores da Fiocruz na manhã de ontem (23/7), quando aconteceu o primeiro debate preparatório para o 7º Congresso Interno. O tema foi o Documento de Referência, discutido a partir de apresentação do coordenador da Comissão Organizadora e vice-presidente de Gestão e Desenvolvimento Institucional, Pedro Barbosa. Participaram da mesa a vice-presidente do Sindicato dos Trabalhadores da Fiocruz (Asfoc-SN), Justa Helena; e, como debatedores, a diretora da Asfoc Luciana Pereira Lindenmeyer e o pesquisador da Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca (Ensp), Antonio Ivo.

“Este congresso é fruto do acúmulo de conhecimento e experiências e do momento que a gente está vivendo, também de olhar para o futuro”, avaliou Pedro Barbosa. “Inauguramos a lógica do planejamento a longo prazo no 6º Congresso Interno. O 7º Congresso é um pouco diferente. Exige mais aprofundamento, mais reflexão”, afirmou, ao citar o tema estabelecido: Conhecimento e inovação para a saúde, desenvolvimento e cidadania.

Barbosa levantou para discussão alguns pontos dos cinco eixos do Documento de Referência: Atenção, vigilância e formação para o SUS; C&T, saúde e sociedade; Complexo produtivo e de inovação em saúde; Saúde, ambiente e sustentabilidade; e Saúde, Estado e cooperação internacional. “Este congresso precisa se materializar na gestão cotidiana da Fiocruz a posteriori – nas agendas do Conselho deliberativo, das câmaras técnicas”, considerou.

Mapas estratégicos

"Este documento não fala das unidades, ainda que a gente tenha o desafio de como nos orquestrar. O coração deste documento está sintetizado nos mapas: o que fazemos, o que deixamos de fazer e o que a sociedade demanda dessa instituição”, disse o vice-presidente. “Os mapas são caminhos para chegar às metas”. Barbosa destacou a necessidade de planejar com perspectiva de futuro. “Onde está a nossa capacidade de prospecção estratégica e tecnológica? Isso é fundamental para a alocação de recursos”.

A sustentabilidade ambiental e no campo da saúde do trabalhador foi um dos pontos levantados para discussão. “Será que todas as nossas práticas e processos são sustentáveis, que isso é uma marca Fiocruz?”, perguntou. “Onde estão nossos produtos inovadores, que não são apenas produtos de transferência tecnológica, que é uma fase desse processo?”, continuou. O vice-presidente também falou da proposta de mudanças no Estatuto da Fundação, que serão pontuais, apenas para formalizar instâncias que existem e funcionam, mas não constam do documento.

Subfinanciamento do SUS

No debate, Luciana Lindenmeyer ressaltou a importância da mobilização nos eventos preparatórios para o 7º Congresso Interno. “É o momento em que os todos podem trabalhar ativamente na elaboração do Documento de Referência”, afirmou. A diretora da Asfoc pontuou diversos itens levantados em discussões prévias que o sindicato considera relevantes, como a questão do subfinanciamento do Sistema Único de Saúde.

“Como a gente pode sinalizar uma participação efetiva da Fiocruz nesse âmbito?”, indagou, para depois sugerir uma agenda do Conselho Deliberativo “mais próxima do Congresso Nacional”. Para o sindicato, o balanço de ações apresentado no Documento de Referência não trouxe discussão aprofundada sobre entraves enfrentados pela Fiocruz – como a integração dos sistemas de vigilância, que depende de ações em parceria com outras instituições.

Agrotóxicos

A diretora da Asfoc defendeu que a Fundação deve se posicionar firmemente contra o uso indiscriminado de agrotóxicos. Luciana lembrou que o aperfeiçoamento da carreira foi um dos macroprojetos aprovados pelo 6º Congresso Interno e destacou que a carreira de assistente não está sinalizada em nenhum dos eixos do novo documento. “Todos os trabalhadores têm que ser valorizados e bem remunerados até 2027”, disse, referindo-se ao Plano de Longo Prazo.

Outros pontos levantados pelo sindicato foram a valorização permanente de sistemas de monitoramento e avaliação; a incorporação dos processos da Fiotec ao sistema de planejamento da Fiocruz; e a discussão do papel do Conselho Superior. O aperfeiçoamento da gestão é uma preocupação do sindicato. “É preciso sinalizar melhor o papel das câmaras técnicas. Já as audiências públicas de prestação de contas, acreditamos que não devem ser só no âmbito da Presidência, mas também das unidades. Como estamos fazendo as entregas à sociedade?”, questionou Luciana.

Ideias-força

O pesquisadr da Ensp  Antônio Ivo optou por falar das principais diretrizes não de pontos específicos do Documento de Referência. “Todo congresso tem um espírito e esse expressa uma guinada, uma mudança de rotina que impacta a cultura institucional”, analisou. “O que se coloca para nós hoje pode ser sintetizado em três ideias-força, que exigem reflexão”.

A primeira delas, de acordo com Ivo, é o desafio da integração. “A palavra não é nova, mas novo é o que ela significa hoje. É um outro paradigma de planejamento, que muitos de nós não compreendem completamente”, disse. Ele lembrou as várias fases da história da instituição, que “já funcionou como uma holding” na qual as unidades tinham grande autonomia em um momento, e em outro como uma estrutura centralizada.

“A segunda ideia-força é a da prospecção: pensar o futuro para decidir o presente”, disse o professor. “Precisamos saber com mais acuidade e mais precisão como fazer, o que deve ser fruto de esforço técnico e político, que envolve diálogo com outros sujeitos”, discorreu. A terceira ideia é a diretriz de avaliação e monitoramento, que exige ajustes e esforços. “É a oportunidade de dar um salto, de nos preparar para um processo de mudança”, concluiu.

Política

Pedro Barbosa disse que o Conselho Deliberativo apresentará para discussão dos delegados uma Carta Política - um texto sintético que mostre qual o posicionamento institucional em relação aos grandes temas em debate hoje. Os trabalhadores que lotaram o auditório e enviaram perguntas via webconferência participaram ativamente do debate.

O próximo, marcado para as 10h do dia 1/8, no auditório do Museu da Vida, no Campus Manguinhos, terá a participação do presidente Paulo Gadelha e de dois convidados: a presidente do Conselho Nacional de Saúde (CNS), Maria do Socorro de Souza; e do presidente da Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco), Luis Eugênio Souza.

Texto: Claudia Lima; Fotos: Peter Ilicciev